As trincas observadas nas paredes externas da casa ou edifício, mais comumente horizontais próximas ao topo ou inclinadas a partir do topo, podem ter origem em processos que ocorrem na laje de cobertura ou no telhado.
Trincas causadas pela dilatação térmica na laje
O principal motivo das trincas associadas à laje de cobertura é a dilatação térmica.
As trincas causadas pela dilatação térmica ocorrem quando há incidência de raios solares com produção excessiva de calor diretamente sobre a edificação.
Elementos como lajes, platibandas e muretas expostos aos raios solares estão sujeitos ao surgimento de trincas. Esse fenômeno é particularmente mais frequente durante o verão, quando faz muito calor, associado a uma tempestade de granizo, que resfria os elementos rapidamente.
Nessas trincas, pode ocorrer a infiltração de água da chuva.
Em dias quentes de verão, principalmente nas latitudes baixas, isto é, entre a linha dos Trópicos e do Equador, a laje de cobertura pode atingir temperaturas de 70º C ou mais, sendo capaz de fritar um ovo. O aquecimento do concreto leva ao fenômeno de dilatação. Da mesma forma, ao esfriar, sofre retração.
Abaulamento da laje
O concreto é péssimo condutor de calor, de modo que a parte de baixo da laje, mais interna, não esquenta tanto, produzindo uma grande diferença de temperatura, que chamamos de gradiente, entre a parte de cima e a parte de baixo da laje.
Esse gradiente de temperatura produz dilatação apenas nas áreas aquecidas, levando a um envergamento da laje, que fica com a forma abaulada (curvada para cima).
Tal abaulamento da laje causa tensões desiguais nas paredes, desencadeando o surgimento de trincas.
O desenho a seguir apresenta o abaulamento de forma exagerada para fins didáticos:
Em outros casos, como a laje está solidamente engastada nas paredes, ao dilatar e retrair, leva junto parte da parede. Então surgem trincas inclinadas, diagonais, nos cantos das paredes.
São casos de difícil solução se desejarmos eliminar a trinca. Não havendo risco para a segurança e estabilidade das estruturas, pode-se pensar numa solução em que convivemos com a trinca e introduzimos elementos que ajudam a melhorar a estética da fachada.
Dilatação térmica de mureta na cobertura de edifício
Dilatação térmica de materiais diferentes (aço e concreto)
Os materiais possuem coeficiente de dilatação diferentes. Isto quer dizer que ao receberem o calor do sol, um deles vai dilatar mais do que o outro. Devemos levar em consideração este fato e permitir que os materiais tenham comportamentos independentes, sem que um afete o outro durante o fenômeno natural da dilatação e retração.
No entanto, certos materiais, como o aço e o concreto, têm comportamentos térmicos bastante diferentes, tornando muito difícil fazer com que dilatem e retraiam de forma harmônica. Como resultado, haverá a fragmentação do concreto, que é o material mais frágil.
Tampa metálica de caixa d’água de prédios
No caso a seguir, muito comum nos prédios, a tampa e a moldura da tampa da caixa d’água, sendo metálicos, possuem coeficiente de dilatação muito maior que a do concreto. Isso causa o surgimento de trincas no concreto ao redor da tampa.
A consequência mais grave dessas trincas é a infiltração de água da chuva para dentro do resevatório de água superior, levando junto sujeira e fezes de aves, e contaminando a água que os moradores e usuários do edifício usam para tomar banho e beber.
Gradil metálico em cobertura de prédios
No exemplo abaixo, o perfil metálico do gradil foi fixado diretamente na mureta. Com a dilatação térmica do aço, a mureta trincou e soltou lascas. No caso, o gradil estava solto e uma pessoa que viesse a se apoiar poderia cair de cima do prédio.
Trincas causadas pela dilatação térmica no telhado
O telhado também sofre a ação da dilatação térmica. Durante o dia, com a exposição solar, o telhado esquenta e dilata, ficando maior. À noite, o telhado encolhe. Essa movimentação, ainda que discreta, causa tensão nos pontos de junção do telhado com a casa.
Pontos de apoio do telhado
O efeito dessa tensão depende do sistema de apoio do telhado, que pode ser contínuo ao longo da parede, ou em determinados pontos, onde são instalados “aparelhos de apoio”.
Quando o sistema de apoio do telhado é falho, as trincas podem ocorrer. Tanto a dilatação térmica quanto a retração podem levar ao surgimento de trincas.
Os pontos de apoio do telhado nas paredes devem permitir movimentos horizontais de “vai-e-vem”. Isso é conseguido por meio do uso de vigas de madeira com graxa ou, em casos de cobertura de maior envergadura, apoios de neoprene com espessura calculada.
Direção da dilatação térmica
A forma da trinca vai variar dependendo de onde está ocorrendo o processo de dilatação e retração térmica.
Ventilação do sótão
Se foi utilizada manta sob as telhas, as consequências da dilatação térmica podem ser agravadas. A manta não permite que haja renovação de ar dentro do sótão (espaço entre o telhado e a laje de forro). Como consequência, há acúmulo de calor durante o dia, que persiste durante a noite, e é dissipado através da laje de forro.
Sem manta e com o uso de telhas do tipo francesa, colonial ou paulista, que são do tipo de encaixar, o ar do sótão é renovado, o que impede seu aquecimento excessivo. Dessa forma, o telhado sofre menos dilatação e menos retração, ocasionando menos transferência de peso sobre as paredes.
Trincas causadas por falhas na estrutura do telhado
Na foto acima, vemos pontaletes apoiados diretamente sobre a laje. Isso causa o surgimento de trincas no teto e nas paredes do quarto que fica logo abaixo.